quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Homenagem a Joaquim Nabuco
O deputado Maurício Rands presidiu (9/11) a sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, em homenagem pelos 100 anos da morte de Joaquim Nabuco, que contou com a presença de parlamentares de diversos partidos, do Dr. José Thomaz Nabuco Filho, neto de Joaquim Nabuco e da Sra. Sonia Freyre, filha do escritor e ex-deputado Gilberto Freyre.
Em seu discurso, Maurício Rands ressaltou a contribuição de Joaquim Nabuco nas letras, como escritor, e na política, pois foi Deputado Federal representando o povo de Pernambuco, quando a Câmara dos Deputados ainda era no Rio de Janeiro, entre 1879 e 1888.
“Já no seu primeiro ano como Parlamentar da Câmara dos Deputados do Império, o então Deputado Joaquim Nabuco proferiu um discurso seminal, mostrando a importância da Abolição. Para Nabuco, não bastava a Abolição formal da escravatura, era preciso destruir a obra da escravidão. Joaquim Nabuco tinha a compreensão de que a escravidão no Brasil era um sistema econômico, social e cultural que precisava superado para a construção da Nação e da cidadania. A percepção de Joaquim Nabuco era de que a cidadania no Brasil seria sempre incompleta enquanto os ex-escravos não fossem plenamente incorporados na vida nacional.
Joaquim Nabuco foi um reformador social, mais do que apenas um abolicionista. Em todos os seus pronunciamentos na Câmara dos Deputados, na memorável jornada abolicionista e, inclusive, no seu livro O Abolicionismo, de 1873, ele enfatizava esta questão: o que fazer depois da Abolição da Escravatura? Falava da importância de se desenvolver o trabalho livre no Brasil, da formação universal que a Nação precisaria dar aos ex-escravos, aos artistas, como ele chamava — talvez querendo se referir aos que chamaríamos de artífices, aos trabalhadores manuais.
Gilberto Freyre, que está aqui tão bem representado pela Sônia Freyre, minha prima, com quem tenho a honra de participar desta solenidade, talvez seja, entre os muitos estudiosos da vida e da obra de Joaquim Nabuco, aquele que captou e enfatizou bem a sua significação como reformador social.
Joaquim Nabuco, como escritor, político e o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, em 1905, foi sempre um reformador social, sempre um estadista que compreendeu a história, compreendeu a responsabilidade histórica das gerações atuais.
Joaquim Nabuco, como escritor, político e o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, em 1905, foi sempre um reformador social, sempre um estadista que compreendeu a história, compreendeu a responsabilidade histórica das gerações atuais.
Joaquim Nabuco, como escritor, político e o primeiro embaixador brasileiro nos Estados Unidos, em 1905, “foi sempre um reformador social, sempre um estadista que compreendeu a história, compreendeu a responsabilidade histórica das gerações atuais, mas que tinha um projeto de futuro para o Brasil, e esse projeto de futuro de passava pela Abolição, pela destruição da obra da escravidão. Portanto ele foi, sim, um precursor da reforma agrária. A crítica que ele veementemente fazia à concentração fundiária no Brasil já apontava, ao final do Império e início da República, para a importância de que, com a Abolição da Escravatura, o País passasse por uma reforma que combatesse o monopólio da terra.
Por todos esses fatores, Joaquim Nabuco é muito mais do que um homem de Estado; ele é também, como bem acentua Gilberto Freyre nas duas introduções que faz ao Minha Formação, de autoria do nosso homenageado, um dos precursores da construção da Nação brasileira.
Joaquim Nabuco é, ainda hoje, muito atual, porque mostra que a ação política, a ação de Estado não pode prescindir do estudo de problemas nacionais, da consciência da história da Nação e da elaboração de um projeto de futuro para o País.
Por tudo isso, para nós, Deputados Federais, e para nós, pernambucanos — Sônia e Nabuco estão presentes nesta Mesa — , é uma honra muito grande participarmos desta sessão solene em que reverenciamos a obra de um dos construtores do Brasil.
Ontem, em conversa com o ex-Presidente Aldo Rebelo, que, em 2008, fez editar pela Câmara dos Deputados um opúsculo com uma primeira galeria dos construtores do Brasil, cobrei-lhe o fato de ali não constar Joaquim Nabuco, que seguramente está dentre os que ajudaram a construir o grande País que hoje somos.
A Câmara dos Deputados, ao fazer esta sessão solene, ao ter criado uma comissão para celebrar o Ano Nacional Joaquim Nabuco, está, num certo sentido, avançando naquele projeto iniciado pelo então PresidenteAldo Rebelo, ao definitivamente inscrever Joaquim Nabuco na galeria dos heróis nacionais, não só por ele ter participado do, até então, maior movimento social da história do Brasil, que foi a Abolição da Escravatura, mas por ter sido um verdadeiro construtor da Nação e da cidadania no País.
As minhas homenagens de conterrâneo, de recifense a ele, que nasceu no dia 17 de agosto de 1849, lá na Rua da Imperatriz, onde eu e, com certeza, o Senador Cristovam Buarque muitas vezes caminhamos. Então, na Rua da Imperatriz, em 1849, nascia o grande brasileiro que hoje nós estamos a reverenciar.”
Aos 8 anos de idade, Joaquim Nabuco presenciou o desespero de um escravo de um engenho vizinho. O escravo lhe pediu que interviesse perante a Dona Ana Rosa para que ela o adquirisse, a fim de que ele ficasse subtraído do tratamento cruel a que era submetido. Joaquim Nabuco cita aquele episódio como um marco.
Por detrás daquelas relações até familiares a que ele estava acostumado, no Engenho Massangana, existia o lado cruel da escravidão, que levou para Joaquim Nabuco, em toda a sua vida, o compromisso de superação.
Um outro episódio que eu quero lembrar — esse é bem realçado pelo nosso Gilberto Freyre — é o episódio de Jararaca. Alguns intérpretes da vida e da obra de Joaquim Nabuco enfatizam o Joaquim Nabuco da diplomacia, do plenário da Câmara dos Deputados, do jornal A Reforma, até chamando-o de dândi, mas não salientam, na devida proporção, que seu compromisso com a abolição era, em última instância, seu compromisso — liberal que era — com a igualdade das pessoas.
Junto com José Mariano, nas campanhas abolicionistas, nas reeleições que disputou em Pernambuco, Joaquim Nabuco enfrentou a violência brutal dos senhores escravocratas. Participou de comício em que frequentador daquele evento foi assassinado pela força da violência dos que se opunham à campanha abolicionista.
Ao lado de Joaquim Nabuco havia sempre esse outro bravo pernambucano: José Mariano, que também foi Deputado Federal abolicionista nesta Casa. Havia também outros bravos abolicionistas, a exemplo de André Rebouças, que reputa em minha formação como um dos principais articuladores do movimento abolicionista.
Naquelas campanhas, Joaquim Nabuco conheceu de perto o sofrimento do povo pernambucano, do povo brasileiro. Ele se confraternizou, sentiu a dor dos oprimidos.
Quero realçar a confraternização de Joaquim Nabuco, que era também de José Mariano, no episódio Jararaca. Apesar do nome, Jararaca era cordato, um pai de família, morador de um bairro popular na minha cidade do Recife, no Bairro de Afogados.
Na campanha para Deputado Federal, Joaquim Nabuco foi à casa de Jararaca e testemunhou a pobreza de um trabalhador livre, a falta de políticas do Estado brasileiro para que mesmo os que já eram livres pudessem ter a liberdade real, condições de vida, de educação e de trabalho que o fizessem cidadão pleno.
Ficou compungido com a pobreza, com o drama da família de Jararaca. Joaquim Nabuco ouviu Jararaca dizer que gostaria muito de votar nele, porque admirava muito a sua paixão e seu compromisso com a causa da emancipação. Jararaca disse que não poderia votar em Joaquim Nabuco porque, no emprego que ocupava, o chefe o tinha obrigado a votar no partido conservador e já tinha lhe dado a cédula marcada para não fugisse do compromisso de votar com os conservadores.
Jararaca disse também que, se ele conseguisse um pronunciamento que fosse, ainda que pelo telégrafo de Floriano Peixoto, a quem ele muito admirava pelo papel na Guerra do Paraguai, em 1865, ele estaria disposto a perder o emprego para votar em Joaquim Nabuco e cumprir aquilo que gostaria: votar num deputado abolicionista.
Aquela reflexão que Joaquim Nabuco fez, ao dizer a Jararaca que preferia que ele não votasse na sua candidatura, é também um testemunho do sentimento de solidariedade que tinha não só com os escravos, mas com os trabalhadores livres que viviam em miséria. Aquilo ajudou, no seu pensamento e na sua ação política, que ele se preocupasse com a pós-emancipação. Daí por que a sua luta muito firme pela universalização da educação, pelo desenvolvimento de programas de qualificação, que deveriam ser, na sua visão, oferecidos aos escravos que viessem a ser emancipados por aquele belíssimo movimento social. Daí por que a sua ênfase na reestruturação fundiária. Ele percebia que o latifúndio e a monocultura geravam a desigualdade, sem a qual a Nação e a cidadania jamais poderiam frutificar.
Por isso tem toda razão o Senador Cristovam Buarque ao enfatizar a atualidade da vida e da obra de Joaquim Nabuco, ao realçar que nós aqui estamos porque ainda não realizamos plenamente a emancipação do povo brasileiro. Senador Cristovam Buarque, nós estamos integrados nesse projeto de mudança, de ênfase no social, que está em curso no Brasil. Nós somos tributários do pensamento, do sentimento, dos crescimentos e da obra de Joaquim Nabuco. Temos, em comunhão com ele, o mesmo compromisso. Temos aquela mesma capacidade de empatia, que nada mais é do que a capacidade de sentir aquilo que outras pessoas sentem.
Nós, representantes do pensamento progressista nesta Casa, somos tributários de Joaquim Nabuco. Temos com ele a comunhão da profunda solidariedade aos excluídos, aqueles que ainda têm uma cidadania pela metade. Por isso fazemos da nossa ação política um testemunho teórico e prático da necessidade de acelerar as transformações em nosso País.
Esta manhã, que vai entrar pela tarde, de homenagem a Joaquim Nabuco é também o momento em que a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional, a família de Joaquim Nabuco, a família de Gilberto Freyre, a Fundação Álvares Penteado, a Fundação Joaquim Nabuco e a sociedade civil brasileira se irmanam àqueles que querem completar a tarefa de remoção dos resquícios da escravidão.
Enquanto houver um brasileiro ou uma brasileira sem educação de qualidade, sem acesso pleno à saúde pública qualificada, sem emprego, sem moradia, sem as condições básicas de cidadania, estaremos aqui, Joaquim Nabuco, nesta tribuna, lutando pela transformação social, como você queria no final do Império, no início da República.
Procuraremos honrar, Joaquim Nabuco, aquele seu mandato, tantas vezes conferido pelo povo de Pernambuco. Através da coerência e do compromisso com o povo brasileiro, faremos deste País uma nação íntegra, em que ninguém tenha cidadania pela metade, em que todos, ex-escravos e ex-colonizadores, sejamos iguais, não apenas na lei, mas materialmente iguais. Esse é o compromisso, Joaquim Nabuco e todos os seus herdeiros, de todos nós que aqui procuramos honrar a tribuna que já lhe pertenceu.
Obrigado, Joaquim Nabuco.”
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- Assessoria de Comunicação
- Recife, Pernambuco, Brazil
- Maurício Rands, recifense, advogado e professor universitário, 50 anos, casado, dois filhos, eleito em 2010 para o terceiro mandato de deputado federal, pelo Partido dos Trabalhadores, representando Pernambuco. Está licenciado do cargo. Atualmente, assume a Secretaria do Governo na gestão do governador Eduardo Campos.